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O verbo “banhar”, incomum na poesia, suscita um campo semântico de coisas boas, lentas e prazerosas. É verdade que há dor embutida em Banhei minha mãe, mas envelopada em leveza e ternura. O título dá o tom do livro deste poeta que é músico: dá vontade de sorrir, invoca infância e abundância, banho de rio, tempo ocioso, certa lascívia inocente. No caso de Beto Furquim, talvez a poesia seja justamente isso: lembranças banhadas a ouro. Marcadamente confessional, este livro-colheita-de-outono está impregnado de memória, elemento intrínseco também ao elaborado trabalho do pintor Alex Cerveny, coautor que assina os delicados desenhos presentes no livro. Na generosidade deste banho, na amorosidade e precisão destes versos e imagens, encontram-se os amigos de adolescência, Beto e Alex, e, por fortuna do destino, também eu, o talvez-poeta orelhista.

 

Artista de seu tempo e sua cidade, Beto Furquim, ao lado de um poeta de todos os tempos e todos os lugares como Alex Cerveny, oferece a todos, especialmente àqueles que, como eu, são compa- nheiros de viagem, um livro lindo, que de alguma forma nos explica e nos redime — a noção mais sagrada do banho. 

 

por Renato Rezende

Banhei minha mãe

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