Eis, neste romance histórico de Krishnamurti Góes dos Anjos, uma obra pautada em acontecimentos históricos colhidos em jornais de época (num arco temporal que se estende de 1906 a 1925), dando-nos conta do grande afluxo imigratório que teve como cenário a então cidade da Bahia, capital do Estado, impulsionado também pelas obras de remodelação da cidade colonial ante as promessas de progresso e desenvolvimento da Primeira República, com os serviços de implantação de um sistema de saneamento básico e a construção do porto da capital. O intenso movimento de imigração que se verifi cava então em todo o planeta no alvorecer do século XX trouxe a Salvador mais de trinta nacionalidades. Da Europa ao Oriente Médio, de África aos confins da Ásia, seres humanos acorreram à Bahia. O registro dessa presença marcante lança luzes preciosas no entendimento que tínhamos/temos sobre a ‘acolhida’ e a convivência com o ‘outro’, configurada na figura dos imigrantes que contribuíram, ao lado de índios escorraçados e pretos recém-libertos, para amalgamar o que hoje entendemos por povo brasileiro. Cada um dos breves capítulos tem como abertura, e a título de epígrafe simbólica, notícias reais acerca de nacionalidades e etnias que aportaram na Bahia. Alimentam a trama ficcional o brutal assassinato de um líder trabalhista por razões políticas, um divórcio rumoroso envolvendo um casal europeu e a tentativa frustrada de industrialização do Estado em inícios do século XX. Verdadeiro caldeirão de miscigenação racial a ferver em uma terra fortemente arraigada em práticas racistas, desmandos e desatinos políticos. De onde nos vem essa falta de confiança em nossos destinos? Como se incutiu o falso senso de civilidade expresso na figura do brasileiro cordial? Quais as práticas que, no Brasil, sempre desaguaram na política dos interesses de ocasião de grupos hegemônicos? Por que nos conformamos com a superficialidade das aparências e do puro e simples mandonismo daqueles que se arvoram a representantes do povo? De onde nos vem, afinal, esse comodismo estúpido que a todos e a tudo nivela num horizonte fechado de imobilismo social? São questões que esta ficção revisita, amparada em nossa falta de memória que nos leva a repetir sempre os mesmos erros.
FICHA TÉCNICA
Romance
Páginas: 192
Formato: 135 x 200 mm
ISSN: 978-85-92875-81-7
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R$55.00Preço
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