"Toda navegação está sujeita a chuvas e trovoadas. Está sujeita a monstros e ao colapso geral. Há mares muito salgados das lágrimas portuguesas e outros que mal conhecemos. Entre eles, os de pequenas ilhas polinésias, onde remadores afirmam que até os vulcões são seres vivos e possuem sentimento.
Diz o historiador que, para a maioria das pessoas, a vida só tem significado pelas histórias que contam umas às outras. Sim, porque até onde sabemos, o processo cósmico não tem propósito ou significado: ele se dá às cegas e de maneira violenta. Apenas criam-se aqui e ali, ao acaso, determinadas ilhas de conforto e segurança, como o colo materno e a volta da primavera.
Essas não são construções humanas, e sim herdadas do que já havia antes de iniciarmos nossa grande transformação da natureza. Nós humanos somos agora os donos do planeta, às custas de muito sofrimento e destruição das outras várias espécies de animais e plantas. Mas será que somos mesmo?
Pelo menos até o fechamento desta edição, tudo indica que por um bom tempo ainda seremos reféns de seres “extremamente pequenos e simples, situados no limite entre vivo e não vivo”. De seres que se diferem de todos os outros por não possuírem estrutura celular ou metabolismo próprio.
Em referência a tais seres, invisíveis e “maus”, e ao momento inusitado pelo qual passa toda a civilização planetária – portadora da mais alta tecnologia e dos maiores contrastes dentro de si – criamos para esta edição o caderno “Riscos na parede”, com testemunhos e reflexões ficcionais sobre esses tempos de quarentena. Torcemos sinceramente para que seja o primeiro e o último da série.
De novidade, também, a presença de novos colaboradores, o que tem a ver com os lançamentos mais recentes da editora.
Desejamos a todos uma boa leitura e apreciação das artes visuais."