'Estranhino' - Um vídeo poema de Clara Baccarin
Estraninho
Já não sei mais em que ruas ando Desconheço esses pés que flutuam
Já não sei mais por onde voo E onde me habito: Cabeça, coração ou umbigo?
Já não sei mais onde Pousam os pássaros Onde eu me enraízo: Mar, cama ou moinho?
Da janela vejo Sobreposições de sentidos
Já não lembro mais Quais as línguas das esquinas E os pratos e os ritos
Já não me reconheço Fico No primeiro minuto Do despertar
Esfrego os olhos em vão Todas as paredes são Estrangeiras
Como se aquele pequeno espaço Que conecta Este mundo e o dos sonhos Continuasse nos meus poros Infindo
E mesmo sem digerir a superfície – Na falta de familiaridade – Na falta do óbvio Caminho Tateio No escuro Como quem se habituou A nada se habituar E vive a inaugurar Mundos